Alexandra sempre foi o pilar da sua família até começar a jogar. O jogo destruiu a sua vida e admite: “Numa semana, estourei todo o dinheiro que tinha na conta. Posso dizer que tinha 35 mil euros”.
Alexandra, nome fictício, é uma mulher de 40 anos, com dois filhos e uma vida instável. Instabilidade desconhecida por membros da sua família, que não têm noção das “perdas emocionais, a perda de tempo, a perda em família”. Desconhecem, também, as perdas monetárias de Alexandra, desde que começou a jogar em janeiro de 2023.
Alexandra descreve a sua rotina de jogo.
Apesar de ter começado a jogar com o marido apenas por diversão, rapidamente ficou adita. “Jogava de dia e de noite. Acabava por estar na cama, tapava com édredon ou com o cobertor e estava ali toda a noite a jogar”, revela. O marido não percebia.
Em teletrabalho, percebeu que já não conseguia controlar o seu desejo pelo jogo. “Comecei a mexer na minha conta poupança e comecei a tirar mil, dois mil, três mil, quatro mil e por aí adiante. Não a deixei a zero porque tive vergonha. Deixei lá 20 euros com medo de me fecharem a conta”. A conta continuou ativa, assim como a sua vontade de jogar.
Alexandra confessa que se seguiram vários empréstimos para continuar a jogar. “Pedi um cartão de crédito em nome do meu marido, no valor de 10 mil euros. Pedi um cartão de crédito em nome do meu pai, exatamente no mesmo valor. A minha irmã fez outro crédito por mim. Acabou por ser no valor de 15 mil euros. Mais tarde, consegui que a minha irmã pedisse um cartão de crédito em nome dela, no valor de 12 mil euros. Em relação ao que tinha em poupança e ao montante que tenho em dívida, gastei 100 mil euros à vontade.”
Em desespero, Alexandra entrou para os Jogadores Anónimos em janeiro de 2024. Inicialmente, com vergonha, pensava que seria a única mulher que teria perdido dinheiro para o jogo. No final da primeira reunião, percebeu que não estava sozinha: “Somos cada vez mais”. Apesar do apoio que afirma ter recebido, não conseguiu evitar duas recaídas. A mais recente, após seis meses sem jogar, teve início em novembro de 2024 e estendeu-se até ao dia 1 de dezembro do mesmo ano.
A mulher “que tomava conta de tudo” admite que foi a uma consulta de psicologia. Porém, as consultas não se tornaram rotina, uma vez que não consegue suportar o gasto adicional. “O que ganho junto com o meu marido nem sequer cobre o valor das dívidas”, explica. Desta forma, o que Alexandra poderá proporcionar aos seus filhos tornou-se uma incógnita.
Alexandra relata a destruição que o jogo causou.
Foi neste contexto que Alexandra planeou, durante a sua última recaída, suicidar-se.
O que não chegou a acontecer, porque não quis deixar os seus filhos e a sua irmã com problemas que não lhes diziam respeito. Decidiu lutar para solucionar todas as adversidades que, atualmente, enfrenta. Apesar da situação que a consome, Alexandra pretende voltar a ser, um dia, uma peça estruturante da sua família.